14 de mai. de 2014

Justiça pelas Próprias Mãos ou Assassinato Implícito?



      Em consequência de um boato, que muitos poderiam julgar ser inofensivo, uma mulher, Fabiane Maria de Jesus, do Guarujá, São Paulo, dona de casa, mãe e inocente, foi linchada e morta de forma violenta.

      No dia 25 de abril uma página do Facebook chamada "Guarujá Alerta" divulgou um retrato falado de uma suspeita de ter cometido um crime de sequestro de crianças e uso de magia negra. O retrato falado é de um crime acontecido em 2012, e pasmem, na Zona Norte do Rio de Janeiro, o que, geograficamente podemos identificar, não fica em São Paulo, muito menos no Guarujá. Essa mulher, em 2012, teria atacado uma dona de casa com um canivete e teria tentado roubar o bebê de seus braços, sendo vista por apenas um homem, que foi quem conseguiu recuperar a criança. Esse mesmo homem que disse com total convicção que a real culpada dessa tentativa de sequestro não se parece em NADA com a que foi morta no Guarujá.
      O dono da página excluiu a postagem, porque reconheceu que se tratava apenas de rumores, mas o estrago já estava feito. Inúmeras pessoas comentaram colocando inclusive links do Facebook de pessoas que supostamente se pareciam com a pessoa do retrato falado. Além de Fabiane, que teve seu destino traçado por uma multidão descontrolada, outras pessoas foram acusadas e até mesmo ameaçadas de morte por internautas revoltados. O filho de uma senhora que não quis se identificar, teve que solicitar que o perfil de sua própria mãe fosse retirado dos comentários da página pois ela estava sendo ameaçada de morte por pessoas que nem sequer a conheciam.
      O dono da fan page do Facebook 'Guarujá Alerta' diz não se sentir responsável pelo que houve com a dona de casa Fabiane Maria de Jesus. Ele não pode abster-se de culpa. Ele foi o propagador da denúncia, foi quem divulgou o retrato falado da acusada, levando assim as pessoas com pouca capacidade de investigação e pesquisa de simplesmente sentenciar uma inocente como culpada. As redes sociais, quando bem administradas, ajudam a solucionar problemas, mas quando são utilizadas de forma inconsequente podem trazer consequências devastadoras, incitando nesse caso, de forma indireta, a violência.
      E por que tanta violência? “O comportamento de massa que é irracional, que é a explosão do momento. Uma série de raivas acumuladas no dia a dia que algumas pessoas não controlam e acabam elegendo, escolhendo uma vítima. Jamais se pode supor que exista justiça pelas próprias mãos. Aquilo que é feito pelas próprias mãos não é justiça, é execução”, disse Mario Sérgio Cortella, filósofo e educador.
      Infelizmente isso não é um caso isolado. A barbárie que vemos acontecendo dia após dia nos choca cada vez mais. A sensação de impunidade faz com que as pessoas queiram e busquem a justiça com as próprias mãos. Mas podemos definir isso como justiça? Utilizar da violência para cumprir o papel de justiceiro em um mundo perdido? Uma atitude tomada baseada em rumores, ainda mais uma catastrófica como essa, não pode ser caracterizada como "fazer justiça".



XOXO, Rafa R.

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